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Conhecimento e a variação climática

A elevação da temperatura provocada pela alta concentração de gases de efeito estufa deve causar um impacto negativo na agricultura de quase todo o planeta.


O aquecimento trará alguma vantagem somente para o cultivo nas regiões de alta latitude. Tornando-se menos geladas do que são atualmente, essas áreas poderão no futuro abrigar culturas que hoje não resistem ao frio. Estima-se ainda que os trópicos terão uma redução das chuvas, com o aquecimento, e um encolhimento das terras propícias à agricultura. Mesmo uma pequena elevação na temperatura (de 1°C a 2°C) pode reduzir a produtividade das culturas. A maior vulnerabilidade ou a baixa capacidade dos países em desenvolvimento de se defenderem dos impactos das mudanças climáticas torna-se mais grave quando se trata diretamente do seu efeito sobre a agricultura desses países que são, de maneira geral, fortemente dependentes da atividade agrícola, seja ela de subsistência ou base da economia nacional.


A fartura na produção de maçãs, por exemplo, depende de um inverno rigoroso com boa qualidade de horas de frio e primavera com baixa umidade. Neste cenário, é atingido o nível máximo de qualidade, no qual a fruta é firme e tem bom potencial de armazenagem, além de garantir o equilíbrio entre o açúcar e a acidez. O produto, quase todo importado para suprir o abastecimento interno brasileiro, movimenta hoje aproximadamente R$ 6 bilhões em sua cadeia produtiva. São R$ 4,1 bilhões só em investimentos. A primeira colheita de maçãs de 2017 aconteceu em fevereiro e as exportações foram boas, com embarque de 55 mil toneladas até julho deste ano. O volume, 81% superior ao do mesmo período em 2016, aponta para uma recuperação dos negócios depois da queda ocorrida no ano passado, quando o volume de exportação da fruta sofreu redução, além de diminuição no valor pago por quilo. Uma perda justificada em grande parte pela queda na qualidade do produto em decorrência das variações de clima.


A avaliação dos riscos climáticos é crucial para diminuir a vulnerabilidade da produção e aprimorar a sua subsistência. Existem instituições que colaboram entre si para criar uma base de dados e modelos que permitem apresentar uma perspectiva dos cenários agrícolas futuros em âmbito nacional. Os novos cenários projetados pelos modelos climáticos preveem aumento de temperatura ao longo de todo o ano, mais intensamente no inverno, com chuva concentrada durante os meses de verão prolongando o período de seca no inverno. Diante desse cenário é razoável formular a hipótese de que a deficiência hídrica neste período aumentará em comparação ao que se observa atualmente e, consequentemente, que as espécies perenes terão maior dificuldade em suportar o estresse por falta d’água durante o período mais seco, sendo mais prejudicadas que as culturas anuais. Com informação qualificada e conhecimento, produtores podem se adaptar ou combater os efeitos climáticos em suas lavouras, reduzindo sua exposição à perda de qualidade da cultura e se mostrar mais resilientes às intempéries.


*Júlia Guerra é diretora de Agronegócios na JLT Brasil



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